1. |
Cuspido em Carrara
03:38
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CUSPIDO EM CARRARA________________________batone
Saio do trabalho, um espantalho, um galho,
quente e resfriado como leite qualho
pronto, em ponto, a postos, pra quem chamar
Não desisto, insisto eu quero isso eu sou de aço
canso um dia, noutro sou caçado
fera em ferro, barco içado
do fundo
do lar
O sofá me aguarda enquanto eu tiro a farda
o corpo largo despejo no meu quarto
e largo os olhos fartos ao noticiário
irisório, hilário, meu diário assim o é
sem pausa pra café
meu canto encontra quatro cantos
enquanto como em pé
Então faço-me embrulho lançado ao vento do precipício
pra me livrar de todo esse entulho e desatar-me de tanto vício
A velha carcaça de lata agora baixou sua guarda
não morre nem mata,
o sangue de barata agora sangra e chora
agora canta e fala
quero cansar as pernas correndo mundo a vida eterna
quero emprestar os braços,
sou ferramenta,
sou escada
pra trilhar
o espaço
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2. |
Antiarquitetura
05:15
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ANTIARQUITETURA__________________________________batone
Crianças, há muito penso nesse mundo de formigas
cada qual no seu buraco sustentando suas vigas
vidas entocadas, casas, condomínios e barracos
cada um no seu casulo, no asilo do seu vácuo
nas cidades em retalho, nesse quadro abstrato
cada um segue enquadrado pra afirmar o seu retrato
cada qual com seu pedaço, com seu naco do espaço
cada um no seu recorte, cada qual com a sua parte
é, o que é cimento hoje, ontem foi desejo
o que vejo de concreto antes foi obra do afeto
todo chão pavimentado, muro erguido, aço armado,
é um sonho reclamado
pela vontade do concreto
a vontade do concreto
a vontade do cimento
a vontade do objeto
a vontade do sujeito
a verdade do concreto
o concreto do cimento
o ciúme do objeto
o objeto do desejo
nós essas idéias que se expressam muito bem
essas idéias que destroçam sem ver à quem
essa voz que bota ordem na matéria
essa voz além da idéia!
nos esquecemos quem é mesmo a criatura
produzindo sem medida, consumindo sem mensura
e que a saúde é o fim da arquitetura
pra que a mais bela natura transpareça na estrutura
então a arquitetura do futuro é o fim do túnel
a entrada do progresso custa caro e barra acesso
então a antiarquitetura é a cultura
processando a carga impura pra que tudo vire espuma
o futuro do objeto é o dejeto
o dejeto do futuro é o sujeito
o sujeito sem pretérito é o presente
o presente é um futuro sem sujeito
o futuro do sujeito é ser
complemento do objeto
o dejeto do futuro é
o presente do sujeito
um amigo meu me disse um dia:
já existe coisa hoje
que nem existe ainda...
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3. |
Black Bloc Brother
02:53
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BLACK BLOC BROTHER________________________batone
Preso em congestionamento
indo careta pro centro
escondido dentro
desses setenta por cento que não faz falta
massa que um dia pode amassar
vivo assim de galho em galho
passando a reza ao vigário
inaugurando atalho
que outro salafrário vai querer usar
massa que um dia pode amassar
atento ao momento, atento ao acontecimento
o lance é da boca pra dentro
da boca pra fora demora, nada melhora
o jeito pra fazer efeito
é afinar o pensamento
faz dele teu medicamento
o lance é da boca pra dentro
corro atrás do prejuízo
mascando dente de ciso
completamente liso
e tudo que é preciso sobra là... no Canadà
tenho feito a minha parte
mas sobra nem a metade
só fico na saudade
nesse contrato covarde quem vai ser, quem vai rodar
massa que um dia pode amassar
atento ao momento, atento ao acontecimento
o lance é da boca pra dentro
da boca pra fora demora, nada melhora
o jeito pra fazer efeito
é afinar o pensamento
faz dele teu medicamento
o lance é da boca pra dentro
da boca pra dentro
atento ao acontecimento
da boca pra dentro
atento ao movimento
da boca pra dentro
atento a todo momento
da boca pra dentro
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4. |
Lâmina
04:50
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LÂMINA______________________________________batone
Querendo a ponta dos meus dedos
o medo aponta a sua lâmina
prata como a primeira fresta da manhã
e eu nu e cru falando grego
me abro em versos entre as máquinas
grisalhas máquinas ovelhas tecelãs
entre as ovelhas tecer lã
faísca
me aconselha o metal que crispa
procura o sol no acordeon
acorda o sol
na cor do som
a risca
que foi traçada não deixou mais pista
e nessa estrada que vai dar em nada
Deus te guarda
Deus te aguarda são
Deus te aguarda são
Deus te guarda
como a pedra que o tempo alisa
Deus te guarda
lâmina precisa
Escuto atento a entrevista
a voz do artista que veio dançar
conta pra sala como cala a solidão
e ainda dentro da notícia
passo em revista minhas músicas
de cada estada
nessa estrada
nesse chão
de cada entrada em colisão
faísca
me aconselha o metal que crispa
procura o sol no acordeon
acorda o sol
na cor do som
a risca
que foi traçada não deixou mais pista
e nessa estrada que vai dar em nada
Deus te guarda
Deus te aguarda são
Deus te aguarda são
Deus te guarda
como a pedra que o tempo alisa
Deus te guarda
lâmina precisa
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5. |
A Fome do Rico
04:26
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A FOME DO RICO___________________________batone
A noite é fria e o frio arrepia
pernas de fora das ruas da Glória
a vida é sonho um tanto medonho
e o tempo foi-se durou uma tosse, durou um coice
o tempo é fosso engole o bom moço
domingo é dia segundo a cartilha
segunda é osso só sobra o caroço
semana finda e é tudo que resta daquele moço
o caroço!
a noite é fria, pessoas são quentes
a drag espirra, pessoas são gentes
tudo é urgente mas sob correntes
ninguém segura, o pingo que tanto apanha fura
pra tanta usura: moleque de rua
se mais ganância: bem mais mendicância
ao desperdício: favela e cortiço
e à indiferença: essa crença carnívora que avança
quando eu começar
vai ser pra matar
vai ser pra matar
a fome do mundo!
quando eu resolver
vou por pra correr
vou botar pra correr
o dinheiro sujo!
quando eu decidir
vai ser pra invadir
vai ser pra invadir
teu coração duro!
boca de lobo, calçada de pedra
prédio vazio, buraco no asfalto
a rua rima, milagre e assalto
à céu aberto e corpo fechado
o chão é sujo e tem bactérias
e nós os restos mortais das estrelas
sabendo delas não podemos vê-las
que somos mesmo da mesma matéria
quando matéria!
a romaria de ações pro futuro
fiéis na fila e encima do muro
fiéis no banco, sentados nos juros
e em vigília mastigando cifras
fiéis aos montes, aos rinocerontes
fiéis às cegas e vendo novelas
é o fim da história o aqui e o agora
a noite é fria, nas pernas da Glória
quando eu começar
vai ser pra matar
vai ser pra matar
a fome do mundo!
quando eu resolver
vou por pra correr
vou botar pra correr
o dinheiro sujo!
quando eu decidir
vai ser pra invadir
vai ser pra invadir
teu coração duro!
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6. |
O Poder da Média
04:31
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O PODER DA MÉDIA___________________________batone
Preparado pra fama
preparado pra fome
pronto pra dar o bote
mas se o bote afunda
a gente vem no rebote
e se o outro rebate
a gente faz o que pode
inventa e põe no wikipedia
e o Wikileaks sacode
reféns do poder da média, da média geral
da Datafolha do mundo, do Ibope global
da massa média cerebral
preparado pro tranco
preparado pro trote
passa a valsa pro tango
troca a tanga por short
é só de chinelo de dedo
sem nenhum medo da sorte
que a sorte nos venha cedo
cabeça cheia de sonho
enche a barriga de vento
reféns do poder da média, da média geral
que bota rédea no mundo, um freio infernal
da massa média cerebral
reféns do poder da média, da média geral
da nota média do mundo, um freio infernal
da massa média cerebral
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Batone Montreal, Québec
Eco-anarco-humanista, glauberiano com ascendente em escorpião.
Um ex-fantoche, um faminto índio das cavernas, um loboguará do Velho-Oeste Paulista e, antes de tudo, um ente que se quer presente.
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