A rua Professor Azevedo Marques no Leblon não tem mais que uma quadra e conta com uma meia dúzia de edifícios. Ali vivi dias bonitos e intensos, de identificação, amizade e despedida.
No blog do meu outro e-álbum "Disquinho de Bolso", me refiro a essa música como sendo uma irmã siamesa de "Manteiga Derretida". Mas se elas nasceram quase ao mesmo tempo e das mesmas emoções, são no máximo gêmeas bivitelinas, ou seja, não se parecem nem por dentro, nem por fora.
Tanto "Acidente", quanto "Manteiga Derretida" já se mostravam canções bem fortes no violão. O arranjo de "Acidente" foi seguido de perto pela banda a partir de vários ensaios no estúdio. No meu soundcloud é possível escutar uma dessas tomadas que, apesar de estar com o andamento mais lento, soa integralmente a versão gravada e apresenta ainda o calor de todo mundo tocando junto. O mesmo não aconteceu com "Manteiga Derretida" que por falta de um recurso importantíssimo que é o de ter uma banda por perto, exigiu um processo de construção fria, cheia de efeitos de edição e com todo mundo gravando isoladamente. É por isso que a participação dos Irmãos Saturno no Disquinho de Bolso foi fundamental pra transformar uma carência numa identidade sonora daquele e-álbum.
Tudo isso pra dizer que "Acidente na rua Prof. Azevedo Marques" é uma balada que, como se diz em francês: fait chaud au coeur, isto é, quente em todos os sentidos, dos ensaios ao registro, do sentimento à concepção. Uma canção que veio lá do fundo do coração. Uma canção que dedico a esta amiga que em momentos importantes soube me escutar e se fazer presente.
lyrics
ACIDENTE NA RUA PROF. AZEVEDO MARQUES
(música e letra: batone)
Ela me diz: siga em frente, deixa de lado o cuidado, se arrisque comigo
tudo o que foi planejado não faz mais sentido
isso eu li não nos seus lábios, mas nos sinais dissonantes por entre seus dentes
essas coisas que tornam importante qualquer acidente
qualquer desenho seu, o inevitável, o absurdo, uma coruja, um traço de carvão
qualquer desenho à mão, que grita do teu coração mais um porquê
e eu um só qualquer, que o tempo acaba a cada passo
o tempo agora é o espaço, as quadras, semáforos
que sinalizam verde, amarelo e/ vermelho, verde, amarelo, verde/ vermelho, verde, amarelo e...
cuida de mim, me pondo em perigo, hoje o meu certo ou errado eu deixo contigo
eu não me importo se o guarda nos pôr de castigo
zela por mim, toma meu nome, gruda no seu, pra me achar usa o teu telefone
em todo esse mundo do avesso me escondo…
no seu endereço, nada de onde ou quando
eu nunca vou pedir pra você ficar justificando
me chame sem medir hora e recado
eu vou até aí só pra apagar o teu cigarro
ou pra ascender a cidade quieta e ansiosa que te espera aparecer
a cidade a meu ver, você a meu ver...
credits
from LIXO EXTRAORDINÁRIO,
released July 1, 2007
batone: voz
mizão: guitarras
filipe barthem: baixo
farinha: bateria
alex corrêa: teclados
júlio anizelli: captação do trânsito no cruzamento da Goiás com a Mato Grosso.
produção executiva: júlio anizelli
produção musical, mixagem e masterização: júlio anizelli
direção de arranjo: mizão
técnicos de gravação: júlio anizelli e gustavo potumati
edição: júlio anizelli
Eco-anarco-humanista, glauberiano com ascendente em escorpião.
Um ex-fantoche, um faminto índio das cavernas, um loboguará do Velho-Oeste Paulista e, antes de tudo, um ente que se quer presente.
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