Houve um período muito divertido no Cassino Paissandú (o apartamento que habitávamos no Flamengo) quando transformamos o pequeno quarto de empregadas ao fundo em uma sala de ensaio onde eu e o Marcus Matraca começamos a desenvolver um repertório que no fim das contas não deu em nada. Mas ao menos tínhamos material ensaiado para entreter as visitas. Tocávamos com tanto vigor, o Matraca sempre alternando os instrumentos, indo da viola caipira pro cavaquinho, depois pegava o sax, passava pra flauta transversal, aí voltava pra gaita, me acompanhava no pandeiro, se arriscava no cajón e tudo isso porque ele era baixista. Ganhamos uma má reputação no prédio e só fui saber disso depois que já não morava mais lá. Porque juro, acreditava que, achando a música boa não estaria incomodando ninguém, muito pelo contrário, estávamos fazendo um favor, rs. Mas numa dessas, o Matraca me apresentou um blues, simples como todo blues deve ser e me propus botar uma letra pra continuar aumentando a nossa parceria. Aí me veio um dos nomes da banda do El Escama banda esta que mudava de nome a cada ensaio ou apresentação, eis o exaustivo diferencial. Um desses nomes era: Amarelo Quase Roxo. Na primeira vez que ouvi os nomes que a sua banda já havia usado, esse me soou imediatamente como um nome de canção que deveria falar algo interessante. Porque essa cor na sua incongruência é no entanto totalmente verossímel. Pensem-na no contexto da improvisação geral do mundo, do empurra-empurra, do dia-a-dia, e assim ela se torna totalmente brasileira, anti-heróica, subdesenvolvida, verdadeira… totalmente nós todos.
Aí comecei a enumerar uma série de situações cotidianas, que marcavam e marcam até hoje o meu desprofissionalismo artístico. Fui tecendo breve relato dos pequenos embaraços, casos vividos, presenciados que reforçavam a imagem dessa cor tipicamente constrangedora de quem faz o que pode. Uma canção empática no exato momento em que se compreende a letra.
Foi a última canção a ser gravada no e-álbum. Tanto que pra evitar que eu voltasse à Londrina, o Júlio mesmo conduziu os ensaios e gravou a voz guia. O Gustavo Potumati ficou encarregado de tocar a produção e assumiu o baixo propondo uma pegada bem ao estilo "Queens of the stone age". O Bamboo veio de Assis pra gravar a batera compondo o power trio que já contava obviamente com a guitarra do Mizão. Gravei a voz já no processo de mixagem das outras músicas.
Agora, me recordando das primeiras impressões que Amarelo Quase Roxo suscitou, me dou conta que o que afirmei lá em cima, no primeiro parágrafo não é justo. Os ensaios que eu e Matraca fizemos no pequeno quarto nos rendeu uma apresentação no Sesc Tijuca dentro da programação do Geringonça. O saudoso projeto-palco que reunia música, teatro e comédia stand-up idealisado pelo amigão e seresteiro Fábio Maleronka. Um tempo depois dessa apresentação, andando pelas ruas do centro do Rio, fui abordado por alguém que me interpelou: amarelo quase roxo!
lyrics
AMARELO QUASE ROXO______(música: marcus matraca / letra: batone)
Quando tem a cama falta a fama
quando tem a idéia falta a câmera
quando traz a viola falta a corda
quando acorda de fato falta sol
se tem o tédio falta o rádio
se tem o remédio falta o raio X
mas a gente faz prendendo o fôlego!
amarelo quase roxo, a gente faz no gás, no osso!
no talo, na lona, no palco, no poço!
amarelo quase roxo... a gente faz!
quando tem vontade falta afinco
quando joga pelo empate vira nos 45’
quando tem um monte falta a ponte
quando dá exato falta saco
se acha a fórmula satura
se você dá uma folga alguém dedura
mas a gente faz prendendo o fôlego!
amarelo quase roxo, a gente faz no gás, no osso!
no talo, na lona, no palco, no poço!
amarelo quase roxo... a gente faz ... prendendo o fôlego!
credits
from LIXO EXTRAORDINÁRIO,
released July 1, 2007
batone: voz
mizão: guitarras
gustavo potumati: baixo
bamboo: bateria
luís moreaux: "sacanaize"
júlio anizelli: backing vocal
produção executiva: júlio anizelli
produção musical, mixagem e masterização: júlio anizelli
direção de arranjo: mizão e gustavo potumati
captação e edição: júlio anizelli e gustavo potumati
Eco-anarco-humanista, glauberiano com ascendente em escorpião.
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