Baratas Cariocas Contra o Giz Japon​ê​s

from Disquinho de Bolso by Batone

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Dos amigos que compõem música de uma forma mais sistemática, o Rato e o el escama são dois dos meus preferidos. O Rato um dia chegou com esses versos "eu sei dançar, sem que vc guie meus pés…" um riff bacana de violão, uma melodia grudenta e eu falei, deixa eu pôr um refrão nisso!

Criei umas linhas tristes que começavam em lá menor dizendo: "abra as portas, deixe entrar meu grito!" queria quebrar o romantismo da canção mantendo-a no entanto, ainda romântica. Mas foi necessário eu me mudar pro Rio, "passar o cão que o diabo amassou" (sic), morar numa quitinete na Barata Ribeiro e ter uma geladeira que hospedava pequenas baratinhas, pra chegar na versão definitiva do que eu tanto buscava. Não tem como não se compadecer por aqueles que temem seu próprio destino. Esse é o sentido épico e trágico dos seres apaixonados. Aguçando um pouquinho mais a consciência, eis a própria condição humana, de cuja origem não se lembra e para a qual o futuro é incerto. Seja no plano afetivo, financeiro, orgânico ou espiritual, o efeito que esse refrão causa nas pessoas vem de seu velado sentido kafkaniano: as baratas somos nozes.

O Dú Reginato, que adora essa canção, também sempre me falou que seu trunfo era o de continuar a ser uma balada romântica com a palavra barata no refrão. Trata-se de termos excludentes. Se uma das razões de se tocar violão é ganhar um coração feminino, evite falar desse inseto nesse momento. Mas desde então, já testemunhei donzelas incautas entonando o refrão à plenos pulmões. Então acho que deu certo.

Mas deixa eu explicar melhor: o Rio, que é uma cidade maravilhosa, tem barata e rato à não mais poder, e não raro, camelôs ganham a vida vendendo chumbinho ou o tal giz japonês, que eu nem sei como funciona direito, mas mata rato e barata, ou seja, é fulminante. Gozado, hoje quando lembro daquela geladeira me dá até vergonha, mas nela me aproximei do mundo efêmero dessas pequenas, não vou dizer que me afeiçoei delas, pois o chinelo comia solto, mas cheguei à perder o nojo, ou seja, passei limites… tudo bem que não eram aquelas, como diz a Gabi, "cascudas", com antenas horríveis, eram antes, aquelas que parecem semente de melância, sabe... melhor, sementes de fruta do conde…

E foi também aprendendo a fazer o riff dessa música que comecei a melhorar meu modo de tocar violão. O rato disse no seu livro "Eu e Vocês" que foi observando minhas canções que ele começou a fazer as suas. Ele disse que o impressionava o fato de eu saber de cor cantar músicas inteiras e ainda mais, próprias. Pois justiça seja feita, sempre observei no Rato um esmero na concepção harmônica, acordes inventivos, via que ele trazia sempre um toque novo no violão, uma execução mais cuidadosa e passei a incrementar meu jeito de tocar o instrumento.

Porque antes eu batia no violão. Queria fazer o efeito do overdrive sangrando o dedo nas cordas. Quantas vezes meu pai falou: procura um professor de violão. E eu achava que ele é que não sabia o que era o róqui.

Quando redescobri a canção no Rio, passei a tocá-la e a gostar cada vez mais dela. Mas eu tocava ela de um jeito no Rio e o Rato tocava ela de outro em Florianópolis. Quem gravasse primeiro ganhava o troféu "E a música é assim…". Mas o Júlio não quis gravá-la em Londrina; no dia em que toquei a música no estúdio eu tava miúdo e ela não pegou. O Júlio achou que parecia muito Loboguará e a gente tava buscando outra onda com o Lixo Extraordinário. Então ela ficou guardada até um dia que o Júlio foi fazer uma assessoria técnica num estúdio em Laranjeiras e em troca permutou umas gravações de voz. Aproveitando a estadia no Rio, gravaria algumas vozes do Lixo no que viria a ser a Filet Com Fritas. Pouca coisa entrou mas foi aí que eu conheci o ilustre Menor, queridíssimo, recém chegado de Curitiba pra cuidar de um estúdio novinho em folha num sobrado super astral na rua Rumânia, do lado da CAL (Casa das Artes de Laranjeiras). E de tabela conheci um desses amigos que a vida dá assim pra gente, generosa, sem cobrar nada, o Ely. O Menor pra se familiarizar com o estúdio resolveu gravar Baratas e o Ely pra fazer a coisa "jambrar" (como diz meu pai) resolveu fazer um disquinho. Assim, Baratas saiu primeiro na coletânea da Filet Com Fritas numa versão mais simples, como Banguela, e depois foi sendo nutrida ao sabor das experiências que moldaram o Disquinho de Bolso.

lyrics

BARATAS CARIOCAS CONTRA O GIZ JAPONÊS__________Rato e Batone

Eu sei dançar sem que você guie meus pés
já sei brincar sem que você me dite a vez
Mas tive que desaprender a entender suas razões
o que não era meu deixei, deixei pra responder depois
do mundo eu nem quis saber, da vida eu só ouvi falar
pros outros eu mandei dizer que agora eu sei dançar

Abra as portas deixe entrar meu grito
Baratas Cariocas tramam no esconderijo
contra o Giz Japonês,
contra o Giz Japonês
e temem pelo seu destino

eu sei voar longe do chão que você fez
sei me safar antes que você chegue até dez

Mas tive que desaprender a entender suas razões
o que não era meu deixei, deixei pra responder depois
do mundo eu nem quis saber, da vida eu só ouvi falar
pros outros eu mandei dizer que agora eu sei dançar,
que agora eu sei dançar, que agora eu sei dançar...

Abra as portas deixe entrar meu grito
Baratas Cariocas tramam no esconderijo
contra o Giz Japonês,
contra o Giz Japonês
e temem pelo seu destino

credits

from Disquinho de Bolso, released September 16, 2009
Batone: voz, craviola e violão
Mizão: guitarras
Filipe Barthem: baixo
Ely Arcoverde Jr.: guitarra, violão e teclados
Stephan Drummond: bateria
Vinícius Cordeiro: percussões

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Batone Montreal, Québec

Eco-anarco-humanista, glauberiano com ascendente em escorpião.
Um ex-fantoche, um faminto índio das cavernas, um loboguará do Velho-Oeste Paulista e, antes de tudo, um ente que se quer presente.

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