Noturno Colorido

from Disquinho de Bolso by Batone

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Juro que essa canção eu fiz andando pelo Aterro tal como ela se apresenta. Numa manhã sonolenta de fim de semana, na companhia de Gabi, olhando os velhinhos do Aterro, a criançada daquelas escolinhas de futebol de areia, a gente pedindo aqui e ali uma água de côco e aquele desconforto intraduzível misturado com uma nostalgia de tudo. Foi assim que a coisa foi. Confesso que a música só ficou pronta mesmo no ônibus Rio-Bauru. Adoro viajar de ônibus por isso. E viajar de madrugada, como é o caso, pois parece que vc tem tudo sobre controle. Só vc e sua cabeça (minha tese é que depois que o ar-condicionado tirou o gostinho do vento da estrada, os "filmecos de vi-ação" mataram a alegria de curtir a paisagem, por isso que só funciona hoje se o trajeto é noite adentro).

Depois que a música ficou pronta, já em Marília, encontrei o Krêo e mostrei a melodia crente que ele ia solucionar a harmonia que eu não encontrava. Ele fez um violão cheio de ginga, mas não eram ainda aquelas notas que eu queria. Tava na época tirando algumas canções do Songbook do Chico Buarque que é uma verdadeira aula de acordes sinistros. Se vc toca algum fora de contexto soa absolutamente dissonante; dentro da estrutura harmônica soa redondo. Nota é igual cor, seu valor é referêncial segundo a nota da frente e a de traz. O Oliver mesmo me contou que um dia, enquanto aprendia a tocar violão, chegou pro seu professor e disse que tal acorde era o mais bonito que ele já tinha ouvido. E a resposta do mestre foi: é bonito porque vem precedido por tal e sucedido por tal, muda essa vizinhança e me fala se continua a mesma coisa... Bom, pra encurtar a conversa, resolvi montar acorde por acorde, seguindo o som que ressoava na cabeça e voilà: fiz a harmonia mais complexa da minha vida! Fiquei quase uma semana tocando até que tudo ficasse no lugar. Hoje quando eu preciso mostrar que sei fazer "um farol" no violão, é essa que eu toco.

O Rafa (Gryner) me disse uma vez que essa era uma das melhores frases de início de canção que ele se lembrava: "velhinhos no flamengo tomam cor". Concordo com ele.

Começamos a gravar a música. O Pipo chegou com um sax e saiu com uma dúzia e meia gravados. Eu e Oliver transformamos essa dúzia na banda do Ray Conniff. O Bamboo gravou a bateria lá em Londrina. O João Saturno mandou uns ruídos, um trecho de música clássica tocando ao contrário. O Oliver descobriu uns plugins. Eu ainda mudei a letra umas três vezes. E o Érick foi o último à arrematar. Mas numa manhã, o Ely entra na sala e diz que tinha sonhado com o clip da música. Ele me pede se depois do almoço a gente podia dar uma volta de carro pra gravar alguma coisa. Eu disse sim, mas com a cabeça em outro plano. Saímos e nos divertimos. Vi por cima as imagens registradas e juro, não botei fé. Passou alguns dias o Ely me liga de noite e fala, baixa aí, ficou pronto. Chorei e revi várias, mas várias vezes, só nessa noite. A simplicidade de tudo ali exposto num fim de tarde de inverno, a roupa que eu estava usando que me lembra minha primeira-comunhão, as ruas do dia-a-dia do caminho pra Filet, os óculos escuros emprestado, enfim, tudo traduz ali uma nostalgia e uma amizade profundas. Pra quem quiser ver, taí.

lyrics

Noturno Colorido____________________________________BATONE

Velhinhos no Flamengo tomam cor
e eu tomei todas, colori a noite anterior
o coro das crianças jogando futebol
me diz que eu não devia ter deixado o meu lençol

o sol, a luz no mar lançou
meus óculos de camelô
da China no Saara

o vento que adora a Guanabara
desembaraça o pensamento e a cabeleira "quem me dera"
aquela água de côco do moleque da barraca
e uma dose de gin, se o mar tá de ressaca

a areia, os grãos lembram vitrais
meus pés no chão me pedem mais
enquanto a onda passa

teria me tornado um atleta
se não tivessem me roubado a bicicleta
e essa silhueta que aprofunda o meu umbigo
é culpa exclusivamente dos velhos amigos

brigado céu, brigado azul
façamos as pazes estamos nus
cadê a bicicleta

credits

from Disquinho de Bolso, released September 16, 2009
Batone: voz, guitarra e violão
Joe Parker: baixo
Érick Moura: teclados
Marcus Matraca: saxs
Bamboo: bateria
Irmãos Saturno (Paulo e João Casaes): efeitos

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about

Batone Montreal, Québec

Eco-anarco-humanista, glauberiano com ascendente em escorpião.
Um ex-fantoche, um faminto índio das cavernas, um loboguará do Velho-Oeste Paulista e, antes de tudo, um ente que se quer presente.

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