Dindi é um sujeito bem simpático. Adora receber os amigos pra jantar, é super família. Tem um violão do lado do escritório e uma bela caixa de ferramentas bem completa, além de furadeira, serra e fita métrica. Adora ir ao cinema mas já se contenta com uma boa sessão de filme em casa. É caseiro e prestativo. Dindi é o apelido que Gabi me deu logo no início do nosso namoro e que desmontou todo o personagem canastrão com o qual por anos fiz meu tipo conquistador. Mas "dindi" pronunciado da maneira como a Gabi pronuncia, com a vozinha peculiar de Tetê Clementina que só ela pode fazer, revelou o herói em mim, ou melhor, o anti-herói. O que tenho de melhor, minhas qualidades mais nobres, minha escuta, minha atenção, minha vontade de ser útil. Ele é o antídoto para meus arroubos de canastrice.
Quando o Fábio Farinha me mostrou os riffs de Super durante as gravações do Lixo Extraordinário tive a certeza de que o tema tinha que ser grandioso, mas não sabia do que falar. Era uma época em que estávamos ouvindo muito o disco do Grenade (2004), do Rodrigo Guedes que foi gravado e mixado lá no estúdio e depois lançado pela Slag Records, a mesma do Nirvana antes do estrelato. Numa dessas noites de audição desse disco que é bombástico, a Gabi me telefona. Falamos de saudade, de pequenas coisas domésticas, de observações sem importância e ao deixar a conversa, comecei a esboçar os primeiros versos da canção. Estava com as linhas melódicas do Rodrigo muito presentes na cabeça, adicionei dois acordes na estrutura da música e todo o resto saiu na mesma noite, de supetão. Foi uma das canções mais rápidas que já fiz. Na manhã do dia seguinte já estava tocando-a no violão com o Júlio cantando junto. Estava tudo pronto pra sair gravando.
Resolvi gravar a voz em dois registros. No primeiro eu cantava a letra toda com uma voz meio de Comissário Gordon. No segundo registro, cantava toda a letra com uma voz de "Duende Verde". O Júlio simplesmente alterna o volume de uma e outra segundo as partes da canção, ora vindo em primeiro plano o "Comissário Gordon", ora em primeiro plano o "Duende Verde". Li num blog de música que fez uma bela crítica do e-álbum que havíamos conseguido nessa canção, reproduzir um registro de voz à la Ziggy Stardust do David Bowie. Adorei ler isso.
O Alex achou um timbre no teclado que lembrava o rock progressivo pomposo do início dos anos 80 e isso acabou no contexto do arranjo reforçando a idéia de uma trilha de jogo de video game compondo perfeitamente com o tema. O Mizão na época estava vivendo o fim de um relacionamento e quis passar uma mensagem sua de maneira mais subliminar no solo final da música certo de que seria mesmo que sutilmente percebido e recebido. Foi quando o Júlio o ajudou a montar um Talk Box caseiro, feito ali mesmo, no próprio estúdio para que junto das notas do solo ele, o Mizão, pudesse articular algumas palavras. O Talk Box é um efeito derivado de um processo simples de direcionamento do sinal da guitarra a partir de um twitter através de um tubo plástico (uma mangueira de água bem flexível por exemplo) que se introduz na boca. Esse sinal vai ser recaptado por um microfone que amplificará o som da guitarra passando pelas articulações da boca e garganta e reencaminhado novamente para o amplificador. Parece complicado mas é muito simples. E o efeito é extraordinário. Ficou imortalizado pelo hit pop hard-rock do Bon Jovi em "Living on a prayer". Quem prestar atenção a esse detalhe na guitarra overdub do solo vai poder escutar o "eu te amo muito" pronunciado junto ao Talk Box. E assim se faz uma bela canção de amor.
lyrics
SUPER_____________________(música: farinha, mizão e batone / letra: batone)
O que for que te preocupa agora
vai dormir passando frio lá fora
porque eu sou teu super dindi
atravessando paredes
com a broca exata para as buchas certas
alerta ao desperdício das torneiras
pra te livrar do pesadelo eu tenho um plano "B"
não tema, não, não tema
pra sondar escutas entre os teu cabelos
ou na ajuda pra prender o espelho
conte com teu super dindi
se você precisa de quem desarme minas no quintal
ou que traz da locadora um filme bem legal
force um grito, dê um assovio
apenas pisque
se você cortar o dedo eu colo
ao menor sinal de desespero
já estou teu super dindi
vem comigo na minha garupa
nos aguarda a melhor pipoca
você tem um super dindi
mas se um dia a idade te exigir a vida mais normal
e a vontade de viver com um simples mortal
tomo rumo no silêncio
do espaço sideral
credits
from LIXO EXTRAORDINÁRIO,
released July 1, 2007
mizão: guitarras e efeitos sonoros
filipe barthem: baixo
farinha: bateria
alex corrêa: teclados
rodrigo serra: vibrafone
dino: teremin
júlio anizelli: confecção do talk-box
produção executiva: júlio anizelli
produção musical, mixagem e masterização: júlio anizelli
direção de arranjo: mizão
técnicos de gravação: júlio anizelli e gustavo potumati
edição: júlio anizelli e gustavo potumati
Eco-anarco-humanista, glauberiano com ascendente em escorpião.
Um ex-fantoche, um faminto índio das cavernas, um loboguará do Velho-Oeste Paulista e, antes de tudo, um ente que se quer presente.
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