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Tarzam Moderno

from LIXO EXTRAORDIN​Á​RIO by Batone

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about

Tarzam Moderno era um artista de circo, do velho e conhecido Circo Garcia. Há muitos outonos atrás, esse circo passou por Marília e o Tarzam Moderno marcou o imaginário de meu pai. Estamos falando dos anos 40, pré-televisor, interior de São Paulo, quando se uma trupe mágica passasse por tua cidade, deixaria em ti uma marca indelével. Meu pai sempre me contava sobre o Tarzam Moderno. Tal como um Louis Cyr aqui de Montréal que no início do século XX espantou platéias por todo o mundo com a exibição de sua força, o Tarzam Moderno também cativava o pequeno público das cidadelas do Alto Cafezal envergando barras de ferro, entortando pregos com os dedos, se desdobrando em provas de uma força sobre-humana. Meu pai fala como se tivesse o conhecido fora do picadeiro, me conta do seu agudo senso de justiça. Em casa, a lenda desse herói miserável foi passada de pai pra filho.

O Rio foi a minha selva pessoal. Já morei no coração de São Paulo, preso na kitinete da Liberdade... mas o Rio foi a minha "selva de pedra". Foi a pedra na minha sola. Ali andei sozinho e em bando. Senti fome e me fartei, senti falta e me excedi. Porque o Rio é um rio dentro de uma selva. São águas passadas sobre a Floresta da Tijuca, lavando o sangue em suas montanhas, seus parques, sua umidade, suas árvores centenárias, imperiais, seu verde foncé, pra tudo desembocar no seu mar, ser jogado em seu mar, ser desovado em seu mar… A selva de sua gente, de suas ruas, de seu barulho, de sua desordem, a sua lei selvagem. Lá vi o homem animal, esquecido nas calçadas, com sede, babando de raiva. Vi o homem em extinção. Sob a copa de suas palmeiras, sob a sombra de seus morros, aprendi a me domar, a respeitar a loucura, principalmente a dos outros e controlar a minha. Compreender sua violência e me fazer pacífico, acoadamente pacífico. Tudo pela mais natural e primária das razões: sobrevivência.

Tarzam Moderno é uma canção do personagem solto a própria sorte, pronto ao próprio azar, pulando e quebrando galho nessa ilha dos tristes trópicos, ao mesmo tempo paradisíaca e umbralina, atraente e repugnante, sensual e escatológica, enebriante, torpe, onde o bom senso recomenda se manter em vigília mesmo trôpego por encantos vulgares, mesmo em sublime transcendência. Infame Éden.

Essa canção surgiu pouco depois de assistir a uma readaptação do teatro tupiniquim O Rei da Vela no templo do CCBB. A alegria e o espanto de entender essa obra referencial para tudo que viria depois sob o rótulo do Pop-Tropicalismo. Mas apesar da publicidade enganosa, tudo é real mas custa uma realidade. A canção é vontade de falar desse mosaico de Selarón presente em cada canto, beco e ruela. Na forma mais apropriada, um samba, lugar desconfortável pra um caipira, ritmo popular de um povo que não me apresentaram. que me convida sempre, e que adentro estrangeiro. Que não poderei nunca naturalizar, me conciliar, me familiarizar, porque é um Brasil que me enfiam goela abaixo. Com seus Abelardos donos da vela, donos da bola, donos da cidade, donos do amor e da liberdade, entuchados goela abaixo, como um tarja preta com whisky, um inibidor de apetite, um placebo B.O. (no canalha jargão farmacêutico, B.om para O.tário) dopante, paralizante, paliativo, viciante… um remédio que eu finjo tomar.

lyrics

TARZAM MODERNO________________________(música e letra: batone)

É alguém encolhido na calçada
é um outro que finge a própria dor
é a casa deixada e desejada
é uma outra visão do mesmo amor
no chacoalho do trem para o trabalho
no cochilo quadrado do metrô
vou pensando o país dos Abelardos
onde a cura é o placebo B.O.

não, não quero perder, eu não quero
não, não quero largar , eu não quero
não, não quero deixar, você é o mistério
você é esse instante que eu quero guardar
é sério, é muito sério, eu sou seu lugar
você é importante pra minha boa forma

é uma feira de cura mediúnica
é a única chance de ganhar
é uma esquina trancada com macumba
é a rumba que vem do meu olhar
não sabia se punha terno ou jeans
se era "rave" ou se era procissão
sem idéia do que esperam de mim
visto a camisa nova e digo não

não, não quero perder eu não quero
não, não quero largar eu não quero
não, não quero deixar, você é esse prédio
tomado lá do térreo ao décimo andar
tomando todo o Aterro de tédio e de mar
não mude, não encane, não case
tente me esperar

é a música intensa dos sentidos
é o grito de antenas e sinais
é o sol me enchendo de malícia
é o rito de velhos capitais
de repente senti-me invisível
um fantasma cortando multidões
transpirando carbono, vidro, diesel
confundindo com as tripas, corações

não, não quero perder, eu não quero
não, não quero largar , eu não quero
não, não quero deixar, você é o remédio
que eu finjo tomar

credits

from LIXO EXTRAORDIN​Á​RIO, released July 1, 2007
batone: voz e violão
mizão: guitarra
filipe barthem: baixo e cavaquinho
farinha: bateria
alex corrêa: teclados
duda de souza: pandeiro, cuíca, tamborins e alfaias

produção executiva: júlio anizelli
produção musical, mixagem e masterização: júlio anizelli
direção de arranjo: filipe barthem e júlio anizelli
técnicos de gravação: júlio anizelli e gustavo potumati
edição: júlio anizelli

license

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about

Batone Montreal, Québec

Eco-anarco-humanista, glauberiano com ascendente em escorpião.
Um ex-fantoche, um faminto índio das cavernas, um loboguará do Velho-Oeste Paulista e, antes de tudo, um ente que se quer presente.

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