Toda Ana

from Disquinho de Bolso by Batone

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"Como dois leões soltos na praça" matou minha vontade de criar uma imagem como aquela de "Panis et Circenses" e seria o nome da canção, mas achei que tinha que ser mais direto. Essa canção eu fiz pra minha irmã Ana Rita. Ela adquiriu uma fama de trocar as palavras, por isso a canção começa assim. Ela já chamou "obelisco" (do Ibirapuera) de "odalisca", "atestado de óbito" de "atestado de órbita" e por aí vai… uma das suas últimas foi "sabe, fulano passou o cão que o diabo amassou…" A gente adora, ela não curte muito, acha que todo mundo pega no pé, mas eu considero isso dela um talento, imagina como um humorista adoraria ter essa dislexia criativa. A canção já existia há um bocado de tempo, mas ficou boa mesmo qdo a Helô foi me visitar lá no Rio. Eu tava pra defender a dissertação de mestrado e ela apareceu lá pra me dar uma força. Como ela é uma super poeta, resolvi melhorar a letra antes de tocar pra ela, e assim ficou. Foi qdo veio "a gente inventa, a arte imita e a vida engana" discreta, mas acho uma boa frase.

Tem um momento da canção que é muito nós dois (eu e Naretz) "ninguém pode a gente junto e fazendo graça". Mas depois que ela teve as menininhas (Gabi e Lulu) tá difícil a gente fazer graça um pro outro; a gente só faz graça pras menininhas.

Bom, como não podia deixar de ser a Iara faz parte tb com seus desenhos e sua sabedoria oriental. A Iara é Sheicho-No-Ie. Aprendo muito com ela depois que deixei de me iludir que era eu que podia ensinar alguma coisa. Na verdade ninguém ensina nada, aprender é um processo íntimo e solitário. Com os outros a gente só lembra que tem que continuar aprendendo. A Iara sempre pintou rostos em grafitti, os mais perfeitos que eu já vi. "O coração quer mais do que o corpo é capaz" tem muito à ver com a Iara.

Estar em Montréal faz parte dessa procura gratuita, na verdade bem dispendiosa, de tentar encontrar as mesmas coisas, como a canção menciona na segunda parte. Mas voltar pra casa não é mais possível pois eu já tenho a minha, mesmo que ela seja alugada.

Toda vez que canto "ah, olha quem vem pra jantar" lembro do Sidney Poitier e do Spencer Tracy.

Mas a melhor história é a do Robô Gigante. Meu amigo Toty não me deixa mentir sozinho: qdo eu tinha 4 anos eu contava pra todo mundo na escolinha Walt Disney que eu estava construindo um robô no quintal de casa. Mas não era um robô qualquer, era um robô gigante. Tinha um pé enorme de abacate em casa, que de tão grande meu pai mandou cortar de medo que algum espatifasse em nossa cabeça (e seria de fato um estrago danado) e eu acho que era esse pé, que mais parecia uma torre, que me fazia acreditar que eu tinha mesmo um robô gigante no quintal. Pois eu falava disso com tanta propriedade que um dia um coleguinha apareceu em casa. Seu pai no carro esperando (ele devia saber da história tb, afinal, porque ele haveria de levar o moleque até minha casa e ficar a espreita no carro, esperando que um aperto revelasse a farsa?) e o menino no meu portão (até lembrei o nome dele agora, chamava Gustavo) me pede pra entrar e ver o robô. Não me intimidei. Pedi que esperasse, entrei em casa, vesti um escafandro de brinquedo que havia ganho de meu pai, pus os tanques de plástico nas costas, os óculos de mergulho e voltei: você tem uma roupa como essa? perguntei. -- Não. disse Gustavo. Eu retruquei: então não vai dar, pra ver o robô gigante tem que entrar com essa roupa… Acho que ele voltou intrigado mas satisfeito pro carro, tipo: então existe mesmo!!

Só que lá pros vinte anos, eu já com a banda Loboguará, tô conversando com um futuro arquiteto cheio de idéias, discurso afiado, e mais do que tudo, um autêntico ex-Acabados (os Acabados era uma espécie de gangue proto-punk - afinal eles tinham dinheiro pra comprar um Landal e pichá-lo todo, mas que, circulando por Marília em pleno anos 80 havia me causado uma impressão incrível na adolescência). Pois bem, de repente papo vai, papo vem, acho que porque sua mãe era a dona da escolinha na época, lembrei e resolvi contar essa história do robô. Esse cara me olha, franzi todo o rosto e diz: então era você!! Minha fantasia tinha ficado na cabeça dele tb. Daí em diante descobrimos que éramos irmãos que essa vida resolveu premiar com pais e mães e outros irmãos diferentes. Até há pouco ele vivia em Toronto e veio, ele e a Bruna, nos visitar e ver a Clara, de quem ele é padrinho. Trouxe uma mochila pra ela, com o robô gigante estampado. Com vocês: minha irmã Ana!

lyrics

TODA ANA___________________________________batone

Trocando umas palavras
Ana me manda alguma, algum sinal
a tua semana, o teu cinema,
a gente inventa, a arte imita e a vida engana
Mana, pra mim tá tudo tão normal
que isso já me parece um problema

daqueles, daqueles que a gente nunca evita
como dois leões soltos na praça
ninguém pode a gente junto e fazendo graça
Vai lá Ana, toda a manhã, toda a semana
na correria de outro dia, de outra mudança
mas saiba que o futuro bate sempre à sua porta

e que nos bastidores é proibido ficar,
é proibido ficar

Ana, mudaram toda a rua, o que a gente junta o tempo separa
não há nada que a gente esconda que não estampe na cara
como um desenho que a Iara faz
o coração quer mais do que o corpo é capaz
Andei um mundo pra procurar de graça
as mesmas coisas que a gente já tinha em casa
Ah, olha quem vem pra jantar
olha quem está por aí, olha quem foi embora
nós temos um passado recente
mas nada como antigamente !

nada como antigamente…
lá do tempo que cabia na casa um Robô Gigante!
Vai lá Ana, toda a manhã, toda a semana
na correria de outro dia, de outra mudança
mas saiba que o futuro bate sempre à sua porta
e que nos bastidores é proibido ficar, é proibido ficar

credits

from Disquinho de Bolso, released September 16, 2009
Batone: voz, craviola e violão
Mizão: guitarras e efeitos
Joe Parker: baixo
Érick Moura: piano e teclados
Rodrigo Serra (Babalú): bateria
Oliver Drummond: bandolim e percussão
Roberto Camilo Caetano Leitão: acordeom
Laura Zandonadi: segunda voz
Marcus Matraca: gaita

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about

Batone Montreal, Québec

Eco-anarco-humanista, glauberiano com ascendente em escorpião.
Um ex-fantoche, um faminto índio das cavernas, um loboguará do Velho-Oeste Paulista e, antes de tudo, um ente que se quer presente.

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